domingo, 26 de julho de 2015

De sedentário a campeão em 7 meses

Como a maioria das pessoas que vivem no século XXI eu nunca tive uma vida ativa no sentido de ir à academia e fazer exercícios. E devo confessar também que sempre preferi tomar um ônibus ou metrô do que andar 15 ou 20 minutos até o meu destino.
Porém as coisas começaram a mudar em setembro do ano passado, quando um amigo meu participou do Ironman em Tenby, País de Gales. Para quem não sabe o Ironman é um evento de triathlon que ocorre em várias cidades do mundo e atrai milhares de competidores de várias nacionalidades.

Setembro/2014 Tenby, País de Gales (foto: Andy Britanny)
Já no início do evento pude ver a grandiosidade da ocasião, pois antes do sol nascer (às 5hs45) o povo já estava na rua para ver a chegada dos atletas. Impossível descrever aqui aquele show da natureza acontecendo no horizonte. 

Sol nascendo (foto: Andy Britanny)

Atletas chegando para nadar no Irish Sea
(foto: Andy Britanny)
Às 6hs em ponto os atletas já estavam no mar (gelado!!) e a cidade inteira (sem exagero) tomou conta das ruas para vibrar e torcer num dia que com certeza ficará guardado na memória de todos.

Irish Sea- 6hs da manhã (foto: Andy Britanny)
Felizmente o meu amigo conseguiu cruzar a linha de chegada dentro do limite de tempo estipulado, e por volta das 22hs15 ele teve o seu momento de glória diante dos holofotes.
Hei, mas calma aí! Não é ele o campeão a quem me refiro no título do post. Por incrível que pareça, o campeão sou eu. Juro! Eu vou explicar. 
Foi tão impactante ver a energia dos atletas e o entusiasmo das pessoas na rua (aplausos e assovios era tudo o que eu podia ouvir) que eu pensei comigo mesmo: "Eu quero fazer algo parecido um dia". Mas quase que instantaneamente eu me lembrei do quão sedentário eu era; e esse pensamento veio como um balde de água fria.
Algumas semanas depois, esse mesmo amigo, chamado Nick Kershaw, falou de um projeto que estava pensando em realizar em Uganda, o qual deveria acontecer no dia 24 de maio de 2015. Ele se referiu à primeira maratona internacional de Uganda, the Uganda International Marathon. A idéia soou bem mas eu tinha que ser realista e convir com o fato que eu teria 6 exames da faculdade pra fazer em maio, o último deles possivelmente acontecendo 2 dias antes do evento. 
Contudo, eu me lembrei do slogan do evento: "Anything is Possible" (Tudo é Possível), e resolvi encarar o desafio, porém da maneira mais realística possível. Embora eu tivesse 7 meses à frente para treinar, as chances de conciliar os estudos e me transformar em um atleta em tão pouco tempo eram mínimas. Foi então que conversei com o Nick e perguntei a ele se não seria possível organizar uma modalidade mais leve para pessoas que, como eu, não são atletas e nunca participaram de uma maratona antes. Ele gostou da idéia e viu um mercado potencial para uma corrida de 10km, além da maratona e meia-maratona.
Nessa altura eu já não tinha mais desculpas e fechei o pacote para participar do evento que me tornaria em um campeão internacional. Coisa que nunca pensei...nem sequer sonhei!
Vai parecer piada mas no meu primeiro treino eu corri cinco minutos ao redor do parque perto de casa e já me senti ofegante. Foi ridículo! E acima de tudo preocupante, pois eu já tinha dito aos meus amigos que ia correr e não podia voltar atrás. Com pensamento positivo eu consegui correr 10 minutos no segundo treino, e foi assim, de pouquinho em pouquinho, que consegui correr uma hora a 8,5 Km/h. 

Treinando num parque em Londres (foto: Andy Britanny)
Na primeira vez que consegui correr uma hora sem parar dei um sorriso do tamanho do mundo e não me senti mais um sedentário, e sabia que se continuasse com a mesma garra eu teria boas chances de cruzar a linha de chegada. Afinal nada garantia que eu fosse conseguir, não é mesmo?
Os meses foram se passando e os meus exames se aproximando, e comecei a sentir a pressão, pois eu queria boas notas, e para isso muitas horas de estudo seriam necessárias. Resolvi interromper o meu treino por algumas semanas e me dedicar exclusivamente aos livros. Não gosto nem de lembrar! 

Abril/2015- período de provas (foto: Andy Britanny)

Para o meu alívio o último exame foi confirmado para duas semanas antes da corrida, e o meu foco se voltou totalmente para o treino novamente. Consegui manter o mesmo padrão de desempenho, porém havia um grande problema! O evento ocorreria no domingo às 7hs da manhã no domingo, e o meu vôo era às 6hs30 da manhã no sábado. Isso significa que eu dormi pouquíssimo na noite anterior ao vôo (que durou cerca de 11 horas incluindo uma escala em Bruxelas). E pra completar, eu cheguei no hotel em Massaka (a cidade onde a Uganda International Marathon ocorreu) por volta da uma hora da manhã. Pra resumir, eu dormi apenas 3 horas antes de correr, além de ter dormido cerca de 3 horas também na noite anterior ao vôo. 
Quando cheguei ao hotel eu estava tão cansado que fiquei até com medo de correr pois achei que pudesse até passar mal ou desmaiar. Porém eu não queria jogar horas de treino no lixo, e um grande momento na minha vida estava por vir, pois não é todo dia que alguém viaja pra África pra um evento desses, certo? Além disso, eu havia arrecadado doações, pois o Nick faz parte de uma ONG que visava construir um dormitório para 300 meninas vulneráveis terem onde ficar durante a noite após os estudos. O indíce de estupro e HIV infelizmente lá é alto, portanto um projeto desse tipo é de uma nobreza sem fim.
Para a minha surpresa eu acordei super energético no domingo e decidi que não estava lá para competir. Eu queria apenas viver o momento e a minha meta era cruzar a linha de chegada. 

Momentos antes da corrida (foto: Andy Britanny)
Porém a minha energia e entusiasmo eram tão grandes que fui deixando as pessoas pra trás. Muitos estavam ofegantes e até pararam para descansar. Outros mais espertinhos cortaram caminho pelas matas, mas eu queria correr com a dignidade de um atleta.

Deixando o povo pra trás (foto: Uganda International Marathon)

Curtindo o momento (foto: Uganda International Marathon)
E foi assim, como um atleta representando meu país, meu amado Brasil, que eu abri a bandeira verde e amarela e com um enorme sorriso cruzei a linha de chegada =)

Momento único (foto: Uganda Marathon 2015)
Foi um momento mágico pois pela primeira vez aquelas pessoas viram um brasileiro. Devem até ter achado que eu era um corredor profissional (eu preferi não revelar a verdade rs). Eu me senti a maior celebridade do mundo com várias pessoas ao meu redor aplaudindo e pedindo para tirar uma foto comigo. Podia ter cobrado! haha

Viva o Brasil!!! (foto: Andy Britanny)
Eu com corredores ugandeses após a linha de chegada
(foto: Andy Britanny)


Enquanto eu vivia os meus 15 minutos de fama e glória um filme passou na minha cabeça. Lá estava eu, em Tenby, um sedentário sonhando em ser atleta.
Até aí já estava ótimo, mas há alguns dias atrás eu estava visitando o blog do evento, e pasme! Eu descobri que eu fui o primeiro corredor internacional da corrida de 10km a cruzar a linha chegada. Eu não pude acreditar e li a tabela umas três vezes esfregando os meus olhos para ter certeza. E era mesmo o meu nome escrito lá (meu nome real hehe), em primeiro lugar com um tempo de 1:10:17. Como diriam os ingleses: "Absolutely amazing!"

Recebendo a medalha na festa à noite
(foto: Andy Britanny)
Isso é prova de que mudança de atitude pode mudar totalmente a vida de alguém. 
Tudo isso só foi possível com foco e muita força de vontade. O poder de uma mensagem positiva é infinito e aquelas palavras estarão guardadas para sempre em minha memória: "Anything is Possible".
Se você tem um sonho ou um objetivo lembre-se dessas palavras também. Quando você tomar uma atitude e se mover as coisas vão começar a acontecer!

Pôr do sol em Tenby, onde tudo começou
(foto: Andy Britanny)

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2 comentários:

  1. André!! Que lindo relato! Amei!!
    Parabéns pela sua conquista!!
    Espero que continue motivado!
    Um super abraço

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    Respostas
    1. Obrigado Isa! Também espero sempre ter motivação, pois nada vem fácil. Beijos

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